terça-feira, 11 de março de 2008

O meu olhar.

O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda
E, de vez em quando, olhando para trás
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer
Reparasse que nascera deveras
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo

Creio no mundo como num mal-me-quer
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender

O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a Eterna inocência
E a única inocência não pensar.

[Alberto Caeiro - O meu olhar]


Que nossos olhos enxerguem sempre a beleza que existe em nós e no mundo.
Melancias queridas. ♥

Nenhum comentário: